Caso Júlia: Padrasto que confessou morte de enteada admitiu que abusou sexualmente da vítima
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Caso Júlia: Padrasto que confessou morte de enteada admitiu que abusou sexualmente da vítima

Publicado em 14/04/2022 15h40

Francisco Lopes, que confessou ter matado a enteada asfixiada dentro de casa, confirmou durante uma audiência de custódia, na quarta-feira (13), que abusou sexualmente da menina. Em depoimento à Polícia Civil, ele havia negado os abusos. Júlia dos Anjos Brandão estava sumida desde o dia 7 de abril e o corpo, que a polícia investiga se é dela, foi encontrado em uma cacimba na última terça-feira (12), após indicação do padrasto.

Francisco Lopes, suspeito pela morte da enteada Julia dos Anjos

De acordo com fontes, Francisco disse durante a audiência que abusou da menina “três ou quatro vezes”, mas que isso não teria ocorrido no dia do crime.

Em entrevista a uma TV local, o delegado Rodolfo Santa Cruz disse que a polícia não tem a informação de que o suspeito confessou os abusos sexuais, mas vai pedir que a Justiça forneça a gravação da audiência de custódia.

“Em razão da notícia de que ele, em audiência de custódia, teria uma relação abusiva sexual contra uma jovem de 12 anos, que caracteriza o estupro de vulnerável, a gente precisa verificar o que tem nas imagens da audiência de custódia. A gente precisa aguardar o que o laudo necroscópico vai nos dizer”, completou o delegado.

Além disso, até concluir o inquérito do caso, a Polícia Civil também deve apurar se outras pessoas estão envolvidas com a morte de Júlia.

Após a audiência de custódia, Francisco foi transferido para o Presídio do Roger, onde deve cumprir a prisão preventiva determinada pela Justiça. Na penitenciária, ele está em uma área separada dos outros detentos.

Adolescente teria mudado de comportamento antes de ser morta

A família da adolescente contou que a menina havia mudado de comportamento cerca de duas semanas antes do crime.

“Tanto eu quanto o pai dela percebemos uma diferença, há duas semanas. Eu falava com ela: ‘oi madrinha’, e ela respondia ‘oi’. ‘Como foi na escola?’ e ela: ‘foi legal’. [Antes] quando eu falava com ela, ela fazia chamada de vídeo, onde ficava 30 a 40 minutos, fazia jogos à distância com meus filhos. [Agora] ela estava bem no limite, não esticava o diálogo. Na hora a gente não percebe, mas depois a gente vai vendo e vai entendendo que ela estava se fechando”, disse Joseane Araújo, tia de Júlia.

O pai de Júlia, Jeferson Brandão, que mora no Paraná e veio de Curitiba para João Pessoa para ajudar nas investigações do então desaparecimento da menina, também falou que ela apresentava diferença no comportamento. Ele acredita que o motivo seria algum sofrimento que ela estaria passando.

Júlia dos Anjos e o pai, em um passeio – foto: Arquivo pessoal

“Você vê que minha filha era guerreira. Aguentar tudo sozinho e ter que transmitir para todo mundo que tava tudo bem. Isso me dá um sentimento de revolta, uma criança de 12 anos ter que suportar isso e ter que ir nos lugares e fingir que estava tudo bem”, contou.

Crime premeditado

A data em que a família falou que notou a mudança no comportamento da menina coincide com um fato que leva os parentes de Júlia a acreditar que o crime teria sido premeditado. No último dia 23 de março, segundo familiares, o padrasto de Júlia teria procurado um locador do prédio onde a família mora e perguntado sobre o circuito de segurança e descobriu que as duas câmeras na frente do prédio estavam desligadas.

No início da tarde desta quarta-feira, Francisco falou pela primeira vez após confessar o crime. Ao deixar a carceragem da Central de Polícia de João Pessoa, após audiência de custódia, ele tentou se justificar.

“Isso para mim foi um surto, reconheço que foi um surto que eu tive. Eu sei que a família dela não vai me perdoar nunca, pelo ato que eu fiz. O mínimo que eu posso fazer é isso, pedir perdão”.

Francisco Lopes ainda pediu apoio a irmã dele, Edileuza Lopes, que segundo a polícia foi a primeira pessoa que ele pediu para falar após confessar o crime.

“A única pessoa que eu tenho por mim é ela. Minha irmã, não me abandone, que eu sou seu único irmão”, disse o suspeito.

Edileuza, em entrevista, falou sobre quando o irmão confessou o crime para ela.

“Quando ele me contou, foi um choque, porque eu levei ele na delegacia para a gente ir atrás de um local seguro para ele. […] Ele olhou para mim e disse: ‘minha irmã, eu gosto muito de você, mas preciso te contar uma coisa’. Eu falei bem natural: ‘fale’. E ele disse: ‘Foi eu que matei Júlia’. […] Aí eu entrei em desespero lá. O delegado e o pessoal me ampararam, porque eu sabia que ia ser uma luta forte a partir daquele dia que ele confessou o crime”, disse Edileuz