Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE
Antonio Augusto/Ascom/TSE

Eleições

Ipec e Datafolha falam sobre divergências entre pesquisas e resultado nas urnas

Publicado em 04/10/2022 09h13

Pesquisas eleitorais do Ipec e do Datafolha divulgadas na véspera da eleição apresentaram divergências com os resultados das urnas. Os institutos foram ouvidos pelo Jornal Nacional para que esclarecessem o que aconteceu.

A diferença entre o resultado das urnas e projeções dos institutos de pesquisa ficavam evidentes à medida que a apuração avançava. A corrida presidencial é um exemplo disso. Na última pesquisa Datafolha, divulgada no sábado (1º), Jair Bolsonaro, do PL, aparecia com 36% dos votos válidos. Pela margem de erro, poderia ter de 34% a 38%.

Já a pesquisa Ipec mostrava Bolsonaro com 37%. Pela margem de erro, ele teria de 35% a 39%. Nas urnas, Bolsonaro teve 43,2% dos votos, de quatro a cinco pontos acima da margem de erro máxima nas duas pesquisas.

Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, aparecia com 50% dos votos válidos no Datafolha divulgado na véspera da eleição. Pela margem de erro, tinha de 48% a 52%.

A pesquisa Ipec indicava Lula com 51% dos votos. Na margem de erro, teria entre 49% e 53%. Nas urnas, Lula conquistou 48,43% dos votos, dentro da margem do Datafolha, e um pouco fora da margem do Ipec.

No Datafolha da véspera da votação, Simone Tebet, do MDB, aparecia com 6% dos votos válidos. Na margem de erro, de 4% a 8%. E Ciro Gomes, do PDT, logo atrás, com 5%. Na margem, de 3% a 7%.

Já no Ipec, Tebet e Ciro Gomes apareceram com os mesmos 5% de votos válidos. Na margem de erro, de 3% a 7%.

Nas urnas, Tebet terminou com 4,16% dos votos, dentro da margem de erro indicada pelos dois institutos de pesquisa. Ciro Gomes teve pouco mais de 3% dos votos, também dentro da margem de erro dos dois institutos.

Os dois principais institutos de pesquisa do país têm uma explicação parecida para o que aconteceu. A própria divulgação das pesquisas indicando a possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno pode ter feito com que os eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet , que votariam em Jair Bolsonaro em segundo turno, antecipassem suas escolhas para o primeiro. Ou seja, a informação fornecida pelas pesquisas ajudou os eleitores a fazerem suas escolhas na última hora.

Márcia Cavallari, diretora do ipec, explica como isso teria acontecido.

“A última pesquisa divulgada na véspera da eleição mostrava que o presidente Lula poderia ganhar a eleição no primeiro turno, e de fato ele ficou a 1,6% dos votos de ganhar no primeiro turno. O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, teve seis pontos a mais do que a pesquisa apontava, e analisando os resultados nós vemos que houve uma migração dos 3% de indecisos que ainda tínhamos na pesquisa na véspera da eleição e o índice do Ciro e da Simone que ficaram menores. Então, talvez com essa informação os eleitores tomaram uma ação estratégica de antecipar um possível voto no segundo turno neste primeiro para impedir que a eleição acabasse no primeiro turno”, diz.

A diretora do Datafolha, Luciana Chong, tem uma avaliação parecida.

“O que a gente viu na pesquisa de véspera foi um índice ainda de 13% de eleitores que declaravam que ainda poderia mudar o seu voto. E entre os eleitores de Ciro esse índice era de 41%, e entre os de Simone Tebet chegava a 37%. Então a pesquisa de véspera foi finalizada no sábado, por volta da hora do almoço, e dali até o domingo, o dia da eleição, a gente viu um movimento de eleitores que votavam no Ciro, Tebet, branco e nulo indo para o presidente Jair Bolsonaro. Então o voto útil que não aconteceu a favor de Lula, aconteceu a favor de Bolsonaro nessa reta final”, afirma.

Os institutos afirmam que o objetivo das pesquisas é captar a intenção de voto na data em que são feitas, mas que não têm como prever mudanças no comportamento do eleitor na urna.

“Por isso que eu considero que as pesquisas são muito importantes deve ser avaliado com cuidado quando falam ‘pesquisa acertou, a pesquisa errou’. O objetivo da pesquisa não é acertar ou errar, e sim mostrar para a população, mostrar para a sociedade como está a corrida eleitoral no Brasil ou em determinado estado”, diz Luciana Chong.

A pesquisa é importante no processo eleitoral porque ela traz informação para o eleitor. O eleitor pode votar bem informado com relação à situação e tomar uma decisão em cima dessa informação que ele tem, seja com voto estratégico ou não. A gente sempre diz que a pesquisa é um diagnóstico daquele momento, a gente está medindo uma intenção de voto, a gente não está medindo o comportamento eleitoral . E o eleitor pode ali, na sua decisão de voto final tomar uma decisão mais assertiva final com base nas suas informações”, afirma Márcia Cavallari.